Mindfulness – A Meditação para uma atenção plena*
Vamos entender um pouco o que é Mindfulness? Nos últimos 35 anos a Neurociência tem desenvolvido muitas pesquisas sobre o papel da Atenção Plena e sua relação com o nosso bem estar. Estudos apontam que cerca de 50% do nosso tempo acordado é de desatenção ao que fazemos, ou seja, a nossa mente divaga entre o que aconteceu ou deveria ter acontecido no passado e o que poderá (ou não) acontecer no futuro. Planejar, ponderar de acordo com experiências passadas e criar previsões para o futuro são importantes capacidades mentais que possuímos e fundamentais para a nossa sobrevivência. Entretanto quando estamos vivendo sob estresse contínuo ou sofrimento de qualquer ordem tendemos a ficar inundados por pensamentos ruminantes sobre o passado e previsões geralmente catastróficas do futuro. Sob o peso desta pendulação tendemos a estabelecer uma relação menos adaptativa à experiência do momento, deixando de vivenciar o que realmente existe: o agora. A conclusão dos estudos citados acima é que o nosso grau de bem estar é diretamente influenciado pela atenção ao que estamos fazendo no momento presente.
As práticas envolvidas no desenvolvimento da atenção plena, – termo normalmente utilizado como tradução da palavra em inglês mindfulness -, fortalece a habilidade de nos conectarmos com o momento presente.
As práticas envolvidas no desenvolvimento da atenção plena, – termo normalmente utilizado como tradução da palavra em inglês mindfulness -, fortalece a habilidade de nos conectarmos com o momento presente. Uma habilidade natural que possuímos. Essas práticas dizem respeito a habilitar nossa capacidade de permitir estar em contato com as experiências à medida que elas surgem a cada momento. Fazendo isso de forma gentil conosco, e sem julgamentos, podemos perceber e acolher o que quer que a vida nos apresenta com uma atitude curiosa e renovada. Desta forma, podemos utilizar as experiências passadas como orientadoras de nossas ações em vez de sermos governados por estas experiências que nos tiram do contato com o momento presente. A atitude receptiva ao momento presente nos capacita a responder com consciência em vez do hábito, das reações exageradas, da compulsão. Prestar atenção conscientemente nos dá a capacidade de escolha e a escolha é o que nos proporciona liberdade e nos coloca nas mãos as rédeas de como reagimos às experiências, uma vez que estas experiências não nos é dado controlar.
Atenção, foco, bem-estar, regulação emocional, controle de impulsos e até mesmo empatia e compaixão – que muitas vezes são vistos como traços de personalidade -, são qualidades que a ciência cada vez evidencia como habilidades e, assim, podem ser treinadas e desenvolvidas. Meditação, como forma de desenvolver a consciência plena não significa esvaziar a mente ou alcançar um estado especial e tampouco é apenas uma técnica de relaxamento. Desenvolver a consciência plena através de várias modalidades contemplativas está relacionado a uma forma curiosa de lidar e explorar a vida, e isto pode ser feito de maneira natural, simples e fácil. Entender aos poucos uma nova possibilidade de fazer, ou melhor do não-fazer, pode parecer estranho para o conceito ocidental que preza o fazer mercantilista, o alcance de metas e o fazer da forma correta. Exercitar o ser no lugar do fazer durante períodos formais de prática e ir inserindo informalmente no dia a dia esta forma de lidar com a vida é libertador, traz confiança em si e na vida.
* Beto Dias
Psicoterapeuta e instrutor de Mindfulness certificado pela Mindfulness Trainings International com o Lama Jangchub Reid, possui formação nos programas da Mindful Schools e Breathworks. Formado em Experiência Somática pelo Somatic Experiencing Trauma Institute, pós-graduando em Psicoterapia Analítica Junguiana. Atua na prática clínica e facilita programas de mindfulness. Atualmente ministra um Programa de Mindfulness no Núcleo do Movimento.